Fonte: http://www.sinfrecar.org.br/portal/
Num país com dimensões continentais como
o Brasil, onde o principal modal de transporte é rodoviário, o mercado
de veículos novos sempre recebeu grandes investimentos dos fabricantes e
montadoras. Para o caso específico da produção de ônibus, há a união de
dois segmentos industriais; o de fabricantes de chassi – que reúne o
motor, eixo e câmbio – e as montadoras de carrocerias, que produzem todo
o acabamento. Na primeira parte da reportagem especial sobre ônibus
zero quilômetro, vamos enfocar a produção de motores e na segunda parte,
que será publicada na próxima edição da revista Fretamento, vamos
mostrar o mercado de carrocerias.
Há combinações de motores das
principais fábricas internacionais com várias carrocerias de empresas
brasileiras e multinacionais que disputam o movimentado mercado
brasileiro. Para garantir a preferência do consumidor, as empresas
investem pesado em novas tecnologias, automação e materiais para
garantir conforto, melhor desempenho e economia.
Existe uma grande variedade de
opções para o empresário renovar a frota com veículos novos, que é a
melhor alternativa apontada por especialistas, pelo desempenho e custo
da manutenção. As novidades nesse mercado são veículos que atendem as
exigências de sustentabilidade e preservação ambiental, com motores
menos poluentes e com fontes alternativas de combustíveis, como o
biodiesel e até motores híbridos, elétricos e a diesel
.
No primeiro semestre desse ano, a
produção de ônibus novos no Brasil cresceu 4% em relação ao primeiro
semestre de 2010. Os modelos de ônibus rodoviários apresentaram grande
crescimento com índice de 27%. Por outro lado, os modelos urbanos
tiveram aumento de 0,9% no semestre. Mas a fabricação de ônibus urbanos
ainda é bastante superior aos modelos rodoviários.
O crescimento da produção e das
exportações de ônibus rodoviários indica um aquecimento do mercado do
transporte rodoviário e de fretamento, com empresas ampliando e
renovando a frota. No primeiro semestre desse ano foram produzidos
22.066 ônibus, sendo 18.875 urbanos e 3.191 rodoviários. As estatísticas
da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos
Automotores), são referentes a produção de chassi de ônibus nacionais,
um mercado bastante disputado entre seis grandes empresas: Agrale,
Iveco, MAN/Volkswagen, Mercedes-Benz, Scania e Volvo.
Na estatística de ônibus novos
licenciados entre janeiro e junho de 2011, o ranking das empresas de
chassi está com a Mercedes-Benz em primeiro lugar com 7.082 unidades,
sendo 1.157 no mês de junho. A empresa vice-líder é a MAN – Volkswagen
Caminhões e Ônibus, que licenciou 5.415 chassis. Em terceiro lugar está a
Agrale com 2.219 unidades. Em seguida vem a Iveco com 700 unidades, que
foi a empresa que teve o melhor índice de crescimento, registrando 221%
de aumento nos licenciamentos em relação ao primeiro semestre de 2010. A
MAN/Volkswagen teve o segundo melhor crescimento no período, com 54%. A
Volvo também apresentou grande taxa de crescimento na produção, com
42%.
Nas exportações, também foi
verificada a tendência de aumento nos modelos rodoviários e queda nos
urbanos. Os ônibus rodoviários apresentaram crescimento de 35,4% e as
exportações de ônibus urbanos registraram uma queda de -20,4% nos seis
primeiros meses de 2011. Mas a venda de ônibus urbanos para o exterior
ainda é maior, com 2.518 unidades, sendo que os modelos rodoviários
tiveram 1.167 veículos exportados no primeiro semestre de 2011.
A partir de janeiro de 2012 entrou em
vigor no Brasil a fase P-7 do Proconve (Programa de Controle da Poluição
do Ar por Veículos Automotores), que equivale a norma européia Euro 5
de níveis de emissão de poluentes para motores diesel. O prazo para a
adequação tecnológica das empresas foi determinado de acordo com a
Política Nacional de Meio Ambiente através de resoluções do Conama
(Conselho Nacional do Meio Ambiente). As empresas desenvolveram motores
menos poluentes e mais econômicos.
A
MAN Latin America utiliza dois tipos de tecnologia para diminuir a
emissão de poluentes em até 60% e redução de 7% de consumo do diesel. Os
sistemas desenvolvidos são o SCR (Redução Catalítica Seletiva) e o EGR
(Recirculação de Gases e Exaustão, em português). Além da menor emissão
de poluentes, o EGR também proporciona menor consumo de combustível,
baixo ruído e maior intervalo de manutenção. A tecnologia SCR utiliza o
composto líquido Arla 32, à base de uréia e água desmineralizada.
A MAN também iniciou nesse segundo
semestre uma parceria com a empresa norte-americana de biotecnologia LS9
para testar o biodiesel UltraClean. O produto é feito através da
fermentação de açúcares e durante os testes serão adicionados 5%, 10% e
50% ao diesel comum, até o teste com a propulsão do motor em 100% de
biodiesel.
A
Mercedes-Benz do Brasil vai aplicar a tecnologia BlueTec 5, já
utilizada nos motores europeus, para se adequar ao Proconve P-7. O
sistema é utilizado desde 2005 na Europa e já passou por três anos de
testes no Brasil para ser disponibilizado a partir de janeiro de 2012 no
mercado nacional Segundo a montadora, a BlueTec 5 reduz drasticamente a
emissão de poluentes, com menor consumo de combustível e excelente
desempenho.
Os efeitos de outras tecnologias
secundárias apresentadas pela Mercedes-Benz também refletem na redução
de consumo de combustível e como conseqüência, menor poluição. O sistema
FleetBoard, de gestão de frota através de computador de bordo, pode
reduzir o consumo em até 15%, através do fornecimento de dados para
análise do comportamento de motoristas, para diagnósticos remotos de
falhas e diminuição de custos de manutenção. As informações também podem
ser acessadas em tempo real através de aplicativos para iPhone e iPad.
A Iveco também desenvolve
aplicativos para acompanhamento de frota através de celulares. Nesse ano
a montadora lançou um aplicativo para aparelhos iPhone com informações
úteis para motoristas, como localização de postos de combustível, mapas e
rotas rodoviárias. O aplicativo usa as informações de GPS sobre as
rodovias e pode calcular os preços de viagens, com as informações de
consumo do veículo e de pedágios. Em março a montadora anunciou uma
promoção com lançamento do GPS MultiConnect já incluído em alguns
modelos de fábrica. O roteirizador tem capacidade de arquivar dados de
endereços e programar a melhor rota, caminhos mais fáceis e alternativos
e até localização de radares.
Já a marca sueca Volvo anunciou que
vai começar a produzir ônibus híbridos no Brasil. O chassi 7700 Hybrid é
movido a eletricidade e óleo diesel. O chassi tem a configuração 4×2 e
em 2012 será feita uma pré-produção, com a previsão de fabricação de 80
unidades. Segundo a fábrica, a tecnologia híbrida da Volvo proporciona
economia de 35% combustível e redução de gases poluentes entre 80% e
90%, em relação aos motores convencionais.
O sistema “híbrido em paralelo”
funciona com dois motores, um elétrico, que trabalha em baixas
velocidades, e um tradicional a diesel, que só entra em funcionamento
acima da velocidade de 20 km. Quando o veículo fica parado
momentaneamente no trânsito das cidades, em semáforos, os motores se
desligam automaticamente e o motor elétrico volta a funcionar quando o
motorista pisa no acelerador.
Outro dispositivo da tecnologia
funciona quando o freio é acionado e a energia da desaceleração
recarrega as baterias para ser utilizada em aceleração. A Volvo também
vai entrar no segmento de ônibus semipesados no Brasil e vai investir R$
10 milhões para fabricar o chassi B270F, com motor dianteiro. A Volvo
investe para disputar o mercado de ônibus com motor dianteiro, que
segundo empresa é formado por 60% de veículos urbanos e 40% de
fretamento e rodoviário.
A
Agrale também pesquisa tecnologia para aproveitamento da energia dos
freios e lançou o modelo Hybridus. O sistema de propulsores híbridos,
denominado ELFA, foi desenvolvido em parceria com a Siemens e utiliza a
energia da frenagem que é armazenada e reutilizada nas partidas. Com
essa tecnologia o motor diesel precisa ser ligado somente quando houver a
necessidade de maior aceleração. Se houver grande capacidade de
armazenamento, o veículo poderá ser usado somente com a energia
elétrica. O motor diesel também é independente e pode ser acionado
independente da velocidade.
Na busca de energias alternativas e
combustíveis menos poluentes para motores de ônibus, a Scania foi uma
das pioneiras e há 20 produz motores de ônibus movidos a etanol,
baseados na combustão de diesel. A empresa considera atualmente o etanol
um dos combustíveis renováveis mais econômicos para utilização urbana. A
Scania investe na tecnologia de bicombustíveis, e defende a transição
gradual para o biodiesel. Em alguns motores da marca, já é permitido o
uso de até 100% de combustível Fama, o biodiesel utilizado em motores
diesel a base de éster metílico de ácido graxo.
Liderança do Mercado
A maior parte do mercado brasileiro de
ônibus é dominada por duas empresas de origem alemã, a Mercedes-Benz e a
Volkswagen, que produzem veículos no Brasil há mais de 50 anos. As
empresas juntas dominam mais de 75% do mercado nacional de chassi de
ônibus. Segundo a Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de
Veículos Automotores) em 2010 a Mercedes-Benz teve a participação de
50,23% do mercado brasileiro de ônibus e a Volkswagen registrou 26,36%.
A Mercedes-Benz montou a primeira
fábrica no Brasil em 1956 e em 1958 fez o lançamento do primeiro ônibus
monobloco do país, o modelo 321H. Em 1966 lançou ônibus monoblocos
interurbanos e em 1970 apresentou os modelos com motor traseiro (OH1313)
e com motor dianteiro (OG 1313). Já em 1987 desenvolveu um modelo
movido a gás natural e em 1998 foi pioneira no lançamento do primeiro
chassi com injeção eletrônica no Brasil.
A Volkswagen produz automóveis no
Brasil desde 1953, época da montagem do primeiro Fusca. Em 1981 surgiu
oficialmente a Volkswagen Caminhões e Ônibus, que garantiu o controle
acionário da Chrysler Motors do Brasil, que produzia os caminhões Dodge.
Dois meses depois da criação da empresa foi lançado o primeiro caminhão
com motor movido a álcool do Brasil. Em 1984 foi lançado o VW 140,
primeiro veículo de grande porte movido a gás metano/biogás.
O primeiro chassi de ônibus foi
produzido em 1993, chamado Volksbus 16.180. Em 1996 foi inaugurada a
fábrica de Resende-RJ para a produção de caminhões e ônibus em um
sistema de Consórcio Modular que reúne os fornecedores na mesma linha de
montagem. Atualmente são produzidos nove modelos de chassi de ônibus,
que são exportados para mais 30 países da América Latina, África e
Oriente Médio.