sábado, 29 de junho de 2013

Quinto Consórcio foi criado para operar BRT do Rio de Janeiro.

No já nebuloso sistema de ônibus da cidade do Rio de Janeiro, surge mais um personagem até então desconhecido. Apesar de quatro consórcios terem ganhado a licitação para a operação do transporte rodoviário em 2010, foi criado no ano passado, sem nenhum alarde e sem uma nova licitação, um quinto conglomerado de empresas para operar todos os BRTs que a prefeitura planeja implantar na cidade até 2016. O GLOBO chegou ao novo grupo através de um convênio, de R$ 5,3 milhões, assinado na quinta-feira com a Secretaria de Segurança para a cessão de PMs de folga para proteger as estações e usuários do Transoeste, que liga a Barra da Tijuca a Campo Grande e Santa Cruz. Empresários e a prefeitura dizem que a participação de terceiros foi prevista no edital de concessão. Mas especialistas alertam que a prática pode gerar distorções e dúvidas sobre o lucro das empresas, ou até o cálculo da tarifas.
O Consórcio Operacional BRT, como foi batizado, é controlado pela Jabour e pela Pégaso, que integram o Consórcio Santa Cruz, responsável pelo transporte de passageiros na Zona Oeste (exceto na Barra e em Jacarepaguá). Ou seja, as duas empresas, que são sócias, terceirizam os serviços para si mesmas. O novo grupo implantou e mantém com pessoal próprio um Centro de Controle Operacional (CCO) com câmeras no Terminal Alvorada, na Barra. A equipe inclui até um funcionário para monitorar as redes sociais e identificar qualquer descontentamento com os serviços. Os funcionários podem até mesmo entrar em contato com as empresas para solicitar reforço de frota ou alterar intervalos conforme a demanda.
A autonomia chega a tal ponto que o novo grupo contratou a Algarve, que também integra o consórcio Santa Cruz, para complementar a frota do Transoeste.
Para a advogada especializada em direito administrativo Sandra Helena Marques de Santana, a contratação de um quinto consórcio pelas concessionárias não é ilegal. Mas ela ressalta que cabe nesse caso uma discussão sobre a moralidade :
A prática é imoral, porque esse contrato gera despesas para concessionárias. Representa um gasto que será repassado às planilhas de custos que servem de referência para calcular o reajuste das tarifas explicou Sandra Helena.
O economista Samy Dana, da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo, estranha a criação do novo consórcio. Para ele, é necessária uma auditoria pesada em cima das contas das empresas.
Sempre questiono o fato de as empresas de ônibus serem de capital fechado. Isso dificulta o controle. Neste caso específico, da criação de mais um grupo, o que me preocupa é que acaba havendo um acúmulo de lucro em cascata, o que deixa tudo ainda menos transparente.
Por ser terceirizado, o Consórcio BRT não tem que prestar contas diretamente à prefeitura. Ao saber da existência do grupo pelo GLOBO, o vereador Paulo Pinheiro (PSOL) se reuniu com o colega Eliomar Coelho, do mesmo partido, que já adiantou que vai propor que o caso seja um dos alvos da CPI que começa em agosto:
É um dado novo. Reafirma e reforça a ideia de que o processo no Tribunal de Contas do Município não deveria ter sido arquivado.
O consultor do consórcio, Fernando Aurélio, estima que o CCO tenha custado cerca de R$ 4,5 milhões. O custo mensal das operações chega a R$ 2,5 milhões. No orçamento, está a despesa com os PMs, que, até recentemente, eram contratados pelo Sindicato das Empresas de Ônibus. Pela engenharia montada, o novo grupo terá no futuro mais sócios para ratear as despesas, na medida em que forem inaugurados mais corredores de BRTs. Os futuros participantes serão empresas dos consórcios Transcarioca (Barra e Jacarepaguá) e Internorte (Zona Norte).
A estimativa da prefeitura é que, do total de 4 milhões de viagens diárias por ônibus, até dois milhões serão feitos por BRTs futuramente. O secretário municipal de Transportes, Carlos Roberto Osorio, defende o modelo. Segundo ele, a integração ajudará a melhorar a qualidade dos serviços prestados pelas concessionárias.
O BRT não é propriamente um novo consórcio. Mas um acordo operacional que aprimora o sistema. Não há nada de errado. Estava previsto no edital e fomos previamente informados disse Osorio.
O presidente do Sindicato das Empresas de Ônibus, Lélis Marcus Teixeira, argumentou que o novo consórcio não visa ao lucro:
A finalidade do novo consórcio é a parte operacional. Trata-se apenas de uma forma de ratear despesas explicou Lélis.

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