sexta-feira, 14 de junho de 2013

Quatro empresários concentram um terço das empresas de ônibus da cidade do Rio de Janeiro.



Há quase três anos a perspectiva parecia boa, pois pela primeira vez, a cidade do Rio de Janeiro teve uma licitação para concessão de suas linhas de ônibus. A promessa era de um sistema renovado, mas, na prática, isso não aconteceu.

Alvo de análises do Tribunal de Contas do Município (TCM) e de investigação do Ministério Público estadual ainda em andamento, por suspeita de formação de cartel, o transporte rodoviário do Rio, como antes, continuou se concentrando nas mesmas e poucas mãos, como mostra a sexta e última reportagem da série “Máquinas mortíferas”. 

Um levantamento feito pelo GLOBO, com base no contrato firmado em 2010, revela que, apesar de o sistema estar dividido entre 41 empresas, apenas quatro donos concentram cerca de um terço de todas as participações nos quatro consórcios vencedores.


Com base nos representantes das empresas que constam do próprio contrato e em atas de assembleias divulgadas em edições do Diário Oficial em 2011 e 2012, é possível chegar àquele que, não à toa, um dia foi apelidado de “Rei do Ônibus”: o empresário paraense Jacob Barata, de 81 anos. Ao todo, ele e seu Grupo Guanabara, que inclui o sucessor, Jacob Barata Filho, estão presentes em pelo menos treze empresas espalhadas por todos os consórcios, que operam em todas as regiões da cidade.

No Consórcio InterSul o grupo empresarial participa com cinco empresas (Braso Lisboa, Tijuca, Alpha, Transurb e Nossa Senhora das Graças), participação de 41,6%. 

Na Zona Norte, com outras cinco (Nossa Senhora de Lourdes, Âncora Matias, Ideal, Estrela, Verdun e Vila Real), com 33,33% de participação.

O Grupo ainda possuí a Viação Normandy do Trigangulo, com uma pequena participação no Consórcio Transcarioca, mas este consórcio também conta com a participação da Transportes Estrela, da Auto Viação Tijuca e da Transurb, que também atuam no primeiro consórcio acima citado.

No consórcio Santa Cruz, da Zona Oeste, o grupo dos Barata ainda possuí a Auto Viação Jabour, principal operador do BRT TransOeste, mas este consórcio tem como representante mais forte Álvaro Rodrigues Lopes, considerado um empresário mais novo no setor, que possui quatro empresas, Rio Rotas, Algarve, Andorinha Rio e uma linha com a City Rio Rotas, concentrando 36% do transporte nessa região. Esse empresário ainda está presente em outras duas companhias na Zona Sul e na Zona Norte, na Translitorânea Rotas e City Rio Rotas. 

Com 41% do TransCarioca, está Avelino Antunes, descendente de portugueses que começou como mecânico e motorista, e tornou-se o nome forte do grupo Redentor. Além da empresa que dá nome ao grupo, tem ainda as empresas Transportes Futuro e Transportes Barra, esta última participando ainda do Consórcio Santa Cruz.

Outro nome forte na Zona Norte é o de Cassiano Antônio Pereira, com 13,2% de participação divididos em três empresas (Viação Rubanil, Transportes América e Viação Madureira Candelária).

Outras empresas também possuem ligação entre si, como a Transportes Campo Grande com a Viação Penha Rio, e Auto Viação Três Amigos com a Caprichosa Auto Ônibus, empresas com direções individuais mas pertencentes ao mesmo grupo, e há o caso da Viação Acari, única empresa da cidade que pertence ao fortíssimo Grupo JAL, com atuação no transporte intermunicipal, municipal em outras cidades fluminenses e fretamento.

A concessão das linhas de ônibus do Rio atraiu empresas até da Argentina e da França. Quatro grupos chegaram a entrar com recursos pedindo que o edital fosse anulado. Um dos motivos era que os vencedores teriam que implantar o Bilhete Único Carioca (BUC) ainda em 2010. Na avaliação dos concorrentes, o prazo curto favorecia as empresas locais. A RATP Development, que transporta 10 milhões de pessoas por dia em ônibus e trens na França, formalizou a desistência por carta, afirmando que os prazos não permitiam elaborar uma oferta séria. Na apresentação das propostas, apenas grupos paulistas entraram na disputa para enfrentar as empresas já estabelecidas na cidade.

Ao longo de sua trajetória, as empresas de ônibus sempre contaram com a simpatia do poder público e de políticos. O coronel Paulo Afonso Cunha, ex-secretário municipal de Trânsito na década de 90, conta que afastou dois altos funcionários da Superintendência Municipal de Transportes Urbanos (SMTU) devido à suspeita de que recebiam dinheiro de empresas de ônibus. Segundo ele, um dos casos foi comprovado, e o servidor teria sido demitido. Alegando tratar-se de informação sigilosa, a prefeitura não confirmou se os funcionários em questão foram investigados.

Antes de 2010, duas tentativas de licitar as linhas de ônibus do Rio foram barradas na Câmara dos Vereadores. Por iniciativa do governo do estado e da prefeitura, foram aprovadas leis que cobram ICMS e ISS simbólicos das empresas de ônibus.

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