Uma louca paixão coletiva Aficionados por ônibus, ‘busólogos’ colecionam objetos e transformam o prazer em profissão, Maria Luisa Barros, site: http://www.odia.com.br/
Rio - Na infância, eles costumavam desenhar ônibus no caderno escolar. Andavam de bicicleta imitando os itinerários dos coletivos. Colecionavam frota de carrinhos e guardavam passagens como se fossem figurinhas de um álbum. Hoje não são mais crianças. Os hábitos mudaram, mas a inusitada paixão permanece mais viva que nunca. O programa preferido agora é reunir os amigos no fim de semana para visitar garagens e terminais rodoviários. Nas férias, viajam pelo País fotografando carrocerias e fazendo amigos.
Rio - Na infância, eles costumavam desenhar ônibus no caderno escolar. Andavam de bicicleta imitando os itinerários dos coletivos. Colecionavam frota de carrinhos e guardavam passagens como se fossem figurinhas de um álbum. Hoje não são mais crianças. Os hábitos mudaram, mas a inusitada paixão permanece mais viva que nunca. O programa preferido agora é reunir os amigos no fim de semana para visitar garagens e terminais rodoviários. Nas férias, viajam pelo País fotografando carrocerias e fazendo amigos.
Alheios aos comentários maldosos, os busólogos (estudiosos de ônibus) seguem seu caminho. E param de vez em quando em terminais do Rio, Belo Horizonte e São Paulo para aumentar o acervo de fotos, de preferência dos ‘quentões’, como eles chamam os ônibus urbanos sem ar-condicionado. Alguns têm coleções de miniaturas, passagens antigas e mais de 40 mil fotografias.
O servidor público Flávio Assumpção, 28 anos, é da turma dos que aproveitam folgas, feriados e fins de semana para visitar garagem ou rodoviária. No ano passado, ele e mais 79 colegas foram a Belo Horizonte conhecer os terminais mineiros. “A gente troca fotos, conversa sobre os melhores motores, chassis. Às vezes nossas sugestões são testadas pelas empresas. Afinal, antes de sermos busólogos, somos usuários”, conta Fábio.
No site de relacionamentos Orkut uma única comunidade (Eu adoro ônibus) reúne 2.095 membros. O BusBlog, o blog do Fãbus, já ultrapassou o número de 50 mil visitas.
Para conhecer um busólogo, diga a um deles onde você mora. Em segundos, saberá todas as linhas de ônibus que passam pelo seu bairro. São capazes de memorizar até números de ordem (aqueles de cinco dígitos que aparecem na lateral do veículo). Hábito que o analista de sistemas Jailson Melo, 27 anos, traz da infância. “Não sei explicar. Mas eu gosto muito de ônibus. No computador, montei minha própria viação fictícia”, diz.
A festa de formatura ainda não aconteceu, mas Jailson já trocou o diploma pelas aulas na auto-escola. Está tirando a carteira de habilitação na categoria D, que permite dirigir ônibus. “Eu achava que era maluco até conhecer a turma e ver que sou o mais normal”, brinca. A estudante de Administração de Empresas Jaqueline Cordeiro, 26, leva na esportiva o gosto do namorado. “Uma vez a gente foi para Cabo Frio e ele não desgrudava os olhos das garagens. Eu o apóio. O que vale é gostar do que faz. Por amor à profissão, pode crescer na carreira”, incentiva Jaqueline.
Foi exatamente o que aconteceu com Rodrigo Salles, 27, controlador de manutenção da Viação Braso Lisboa que começou como office-boy ganhando R$ 259 e hoje faz treinamento para cargo de chefia: “Duas empresas me convidaram para trabalhar porque eu gostava muito de ônibus. Seria bom se outros empresários contratassem mais busólogos”.
Hobby virou fonte de renda
Há oito anos, o arquiteto Ricardo Avellar, 42 anos, começou a construir em madeira réplicas de ônibus depois de ficar desempregado. A perfeição das miniaturas de 50 centímetros, equipadas até com amortecedores, atraiu donos de viações e busólogos até do Acre. O que era apenas um hobby se tornou fonte de renda. “Não dá para ficar rico. Mas comprei meu primeiro carro zero quilômetro e uma casa que eu mesmo reformei e aluguei”, conta Avellar.Na oficina de casa, em Niterói, Avellar já fez mais de 300 peças. Alguns clientes chegam a comprar 60 réplicas. Cada uma é vendida a R$ 300. A próxima remessa de 20 miniaturas será uma cópia de um ônibus da época do ex-governador Leonel Brizola que fazia a travessia da Ponte Rio-Niterói.
Como ele, seu irmão, Rafael Avellar, 44 anos, também é um aficionado por ônibus. Mas num grau bem mais elevado. “Ele tem um acervo com 45 mil fotos tiradas desde 1977. Quando ele viaja leva na bagagem 30 filmes de 30 poses”, se diverte. A paixão de Rafael começou na infância. “Ele saía catando fichas de ônibus, as passagens de antigamente, pelas ruas. Algumas raras chegam a valer R$ 500”, conta o irmão Ricardo.
ENCONTRO EM MINAS Em maio do ano passado, 80 pessoas de vários estados brasileiros e da Argentina viajaram, de ônibus, para o 1º Encontro Nacional de Busólogos de Minas Gerais. LEGIÃO DE 3 MIL FÃSEstima-se que existam 3 mil busólogos no Brasil. Eles se abastecem de fotos e dados de páginas da Internet, entre elas http://clubedotrecho.fotopages.com/, http://www.terminalonibusdorio.com/ e http://dalarbus.fotopages.com/.RIO: 7.221 ÔNIBUSNa Região Metropolitana do Rio há 14.445 ônibus, 7.221 na capital. São 119,1 milhões de passageiros por mês.
POINT É A RODOVIÁRIAOs points preferidos dos busólogos nos encontros são a Rodoviária Novo Rio e o Terminal João Goulart, em Niterói.PRÓXIMA PARADANo próximo domingo, os amantes dos ‘quentões’ vão se reunir na Rodoviária de Nova Iguaçu para o 2º Encontro de Busólogos da Baixada Fluminense.
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